quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Reconciliação é o tema do terceiro dia do Congresso Lausanne III


A reconciliação aplicada não somente na dimensão individual, mas também global e integral foi a mais importante contribuição teológica do terceiro dia (19/10) do Congresso de Lausanne, aqui na Cidade do Cabo – uma cidade ainda com as marcas da história recente de discriminação racial da África do Sul.

Comunidade reconciliadora

Ruth Padilla, presidente da Fraternidade Teológica Latino-americana (FTL), fez uma exposição bíblica do segundo capítulo de Efésios. Ela enfatizou a obra de Jesus Cristo como base para a reconciliação e para a construção de uma comunidade reconciliadora. “A retórica e a pregação eram valorizadas pela comunidade romana, mas a proclamação da paz de Jesus Cristo é mais significativa, porque é baseada no que Jesus é e faz pela paz. Em Jesus Cristo, Deus cria uma comunidade. Os romanos classificavam as pessoas por categorias, por status, mas na obra reconciliadora de Deus, todos somos da mesma comunidade. Somos templo santo de Deus”, disse ela.

Em seguida, os participantes puderam fazer aplicações do texto bíblico a partir de seus próprios contextos. É o caso do pastor Damian, de Guiné Equatorial. Ele lembrou a necessidade de paz e reconciliação em seu país, já que o governo controla a liberdade da população. “O presidente está há mais de 30 anos no poder. Não temos liberdade para pregar em praças públicas, com o risco de sermos presos. Somos controlados pelo Exército. Minha igreja tem trabalhado com oração e pregando a Palavra de Deus. Queremos investir no fortalecimento da família, com estudos bíblicos e diálogo”, relata. Já o missionário Jose Luis Ramirez, do México, contou que está acontecendo algum muito bonito entre as igrejas do seu país. “No México, temos reunido os indígenas expulsos de suas terras, e lhes pedimos perdão por isso, buscando uma reconciliação primeiro entre nós mesmos. Por outro lado, a Igreja está buscando uma forma de trabalhar com as famílias em um enfoque de reconciliação, porporcionando a única alternativa para isso: Jesus Cristo. As igrejas também estão movendo-se em oração em nível nacional contra a violência devido o tráfico de drogas”.

Foi desafiador também ouvir Joseph D’souza, Pranitha Timothy e Brenda Salter. Joseph falou sobre as castas na Índia e sobre como as mulheres são vítimas de uma forte discriminação. Pranitha, uma jovem indiana de voz e porte físico frágeis, contou com lidera a International Justice Mission (IJM), uma organização que trabalha para libertar escravos, defendê-los judicialmente e proporcionar ajuda emocional. “Deus quer trazer luz, através do seu Corpo, diante da escuridão dos donos de escravos. Devemos mostrar que nosso Deus é justo. Que ele abençoe os escravos”. A norte-americana Brenda fez uma auto-crítica afirmando que o Cristianismo nos Estados Unidos tem um problema de credibilidade. “Os jovens querem respostas da igreja, querem ver as igrejas mostrarem credibilidade, por meio da maneira como vivemos, de como nos organizamos”, disse.

Foi emocionante ouvir o testemunho da palestina Shadia Qubtim e do judeu Daniel Sered. Eles relataram a dificuldade de vencer o ódio entre seus povos, mas demonstraram esperança. “A reconciliação tem me transformado, e transforma o meu inimigo”, disse Shadia, em meio aos aplausos. “A única esperança para a paz no Oriente Médio é Jesus. Ore por isso”, pediu Sered.

Ainda na parte da manhã, Antonie Rutaysire iniciou a segunda plenária do dia. Ele refletiu teologicamente sobre os erros das igrejas cristãs que contribuiram para a tragédia do genocídio em seu país, Ruanda, em 1994, quando um milhão de pessoas foram mortas em apenas 100 dias devido o conflito entre etnias. Ele lembrou que o massacre aconteceu num país com 90% de cristãos e numa época em que a igreja estava crescendo. Para Rutaysire, as falhas da igreja estavam relacionadas com: a falta de contextualização, com um desprezo aos problemas sociais graves do país; uma forma superficial de apresentação do evangelho, reduzida apenas a memorização de versículos, mas em tempos de crise, os cristãos recorriam à religião tradicional; a incoerência no testemunho dos missionários que pregavam, mas não viviam a unidade, e o relacionamento corrupto entre a igreja e a política. “A pergunta hoje é: alguma coisa mudou? Sim e não. Sim, porque agora sabemos a mensagem que devemos pregar para curar as feridas de nossas nações. Não, porque não há muitas pessoas pregando esta mensagem, e aquele que pregam não o fazem com intencionalidade, ou seja, pregar até que a transformação seja percebida. A maioria dos países que possuem a presença cristã dominante na África está profundamente ferida”, afirma Rutaysire.

A programação da manhã foi encerrada com o testemunho de Christine MacMMillan, do Exército de Salvação. Ela relatou a luta da sua organização contra o tráfico humano.

Oriente Médio

À noite, a programação foi dedicada à região do Oriente Médio e foi dirigida pelo pastor brasileiro Valdir Steuernagel. Líderes de países como Irã, Líbano, Palestina e Egito relataram como está a caminhada do Cristianismo em seus lugares. A boa notícia é que o Evangelho tem crescido em toda a região. A má notícia é que a perseguição religiosa também, o que tem forçado muitos convertidos a fugirem de seus países, enfraquecendo assim o testemunho cristão.

Steuernagel reconheceu: “Não foi um dia fácil. Deus nos chamou para percorrer um mundo ferido”. Os participantes viram e ouviram em vídeo a história de uma mulher explorada sexualmente no Cabodja, mas que teve no Cristianismo o caminho para o resgate de sua vida e dignidade. Em seguida, e finalmente, o público emocionou-se com a história de vida de uma moça de Zâmbia e de um homem da África do Sul. Ambos são soropositivos e contaram como Deus os tem ajudado a enfrentar a doença e o preconceito, e como eles têm lutado contra o flagelo do HIV/AIDS em favor de outros.


Fonte: Editora Ultimato
Postado em 27 de outubro de 2010

0 comentários:

Postar um comentário

Seguidores

Share

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More